Por Igor Miranda
Certa vez, o vocalista Doogie White definiu o colega Blaze Bayley como o “maior trabalhador do rock and roll”. Embora negue o rótulo – “acho que há muitas pessoas que trabalham duro”, diz –, Bayley é, de fato, um dos nomes mais ativos do heavy metal. Desde 2000, o ex-vocalista do Iron Maiden lançou nove álbuns solo, de inéditas, além de um disco com o Wolfsbane – “Wolfsbane Save the World”, de 2012 – e fez centenas de shows pelo mundo afora, sendo que mais de 50 deles foram no Brasil.
E o ano de 2018 já está sendo bastante agitado para Blaze Bayley. Em março, ele lançou “The Redemption of William Black (Infinite Entanglement Part III)”, disco que conclui a trilogia “Infinite Entanglement”, iniciada em 2016, com um álbum de mesmo nome, e complementada em 2017, com “Endure and Survive (Infinite Entanglement Part II)”. São três registros de inéditas em 715 dias – menos de dois anos –, que comprovam: Blaze está a mil.
Em entrevista exclusiva ao Whiplash.Net, Blaze Bayley falou bastante sobre seus novos discos, comentou um pouco sobre seu período no Iron Maiden e teceu vários elogios ao Brasil, com direito a uma promessa: voltará em janeiro de 2019 para uma série de shows pelo país.
A respeito de seus novos discos, Blaze Bayley reconhece que a série “Infinite Entanglement” foi um projeto ousado. Musicalmente, ainda traz o heavy metal de tons progressivos que os fãs se acostumaram a ouvir do vocalista, mas, até então, ele não havia trabalhado em séries de discos conceituais. Desta vez, ele conta uma história de ficção científica, com início, meio e fim repartidos em cada um dos três álbuns.
“‘Infinite Entanglement’ começa com um homem que não sabe se é humano. Sua consciência foi baixada para um corpo de máquina, então, ele acorda dentro dela. Ele se sente humano e pensa como um, mas tem corpo de máquina. Ele precisa decidir se é humano e é aí onde tudo começa. O segundo disco, ‘Endure and Survive’ é uma jornada de mil anos pelo espaço. Esse homem, William Black, sofre lavagem cerebral e deve matar todos os outros membros de sua raça até chegar ao novo mundo. Na parte três, ‘The Redemption of William Black’ ele tenta chegar ao novo mundo, mas os novos conquistadores da Terra, com suas naves, querem matar toda a população indígena. Então, William Black precisa decidir se fica com as tribos ou não. A história é semelhante à dos conquistadores de Portugal e Espanha, com a América do Sul sendo o novo mundo”, contou o vocalista.
As composições melódicas acompanham o tom de cada momento da história, de acordo com Bayley. “O primeiro disco começa com o ato de deixar sua casa e se despedir de tudo o que você conhece. Há otimismo, porque se busca um novo futuro, mas também há tristeza, por deixar tudo que é familiar para trás. A segunda parte é mais obscura e pesada, porque há morte, assassinato, sangue, ressentimento e vingança. São emoções mais obscuras. A parte três tem um tom melancólico, ao se lembrar do passado, de onde se veio. E descobrir que seu passado não dita o seu futuro, a música reflete esse ponto do otimismo”, revelou.
Blaze descreveu o projeto como “um grande desafio”, mas revelou que fez uso de aprendizados conquistados nos tempos de Iron Maiden. “Foi um grande desafio, mas, nos meus dias com o Iron Maiden, trabalhando com Steve Harris, aprendi muito. E são esses valores, onde a música está ligada à jornada. A melodia, a vocalização, a letra e a música estão ligadas à jornada. E trabalhar com Steve Harris, no Iron Maiden... ele me ensinou muito sobre isso. É uma grande influência. Há muitos detalhes, então, nós trabalhamos para lapidá-los e garantir que toda música seria o melhor que conseguíssemos fazer. Cada música tem seu propósito”, disse.
Banda e participações
Desde 2014, Blaze Bayley é acompanhado por uma banda já formada: a Absolva, composta pelo guitarrista Chris Appleton, o baixista Karl Schramm e o baterista Martin McNee. Apenas o também guitarrista Luke Appleton, que integra o Iced Earth, ficou de fora. Para Blaze, a decisão de trabalhar com esse grupo, que gravou os três discos da série “Infinite Entanglement”, tem sido “uma ótima forma para ter músicos consistentes e excelentes”.
“Chris Appleton é muito talentoso como guitarrista e como produtor. Martin McNee é um incrível baterista, porém, mais importante que isso, é que ele compreende tudo o que desejo e pergunta por todos os detalhes. Ele nunca se chateia e sempre trabalha duro. E Karl Schramm toca junto da banda e sabe como encontrar posições para encaixar o baixo. Sempre conversamos sobre todos os álbuns e antes de começar o primeiro, ensaiamos bastante. Desde então, dividimos onde cada música pertenceria. Trabalhar com uma banda de ótimos músicos nos três álbuns foi algo muito bom”, disse.
Especificamente em “The Redemption of William Black”, o mais recente da trilogia, Blaze Bayley contou com algumas participações especiais. Chris Jericho (Fozzy) e o já citado Luke Appleton cantaram em “Prayers of Light”, enquanto Liz Owen participou de “18 Days” e “Already Won”.
“Fui muito sortudo com Chris Jericho. Estava em Los Angeles para um show e ele estava por lá. Nos conhecíamos de anos atrás, porque nos encontramos algumas vezes em festivais onde o Fozzy tocou. Ele me conhecia do álbum ‘The X Factor’ (1995), do Iron Maiden. Ele veio ao show, conversamos e ele me perguntou: ‘você falaria ao meu podcast?’. E eu respondi: ‘você estaria em meu disco?’. Ele disse que estaria em Birmingham, em outubro, e era justo onde gravaríamos o disco. Foi uma grande coincidência, pois aquele personagem de Chris Jericho é uma parte importante da história. Ajudou muito e foi fantástico. Já Luke Appleton, que é membro do Iced Earth e do Absolva, tem uma voz muito forte que eu gostei bastante de usar”, afirmou Blaze.
A relação com o Brasil
Não importa qual seja a turnê realizada por Blaze Bayley: os fãs podem ter certeza de que passará pelo Brasil. O vocalista citou o país diversas vezes durante a entrevista e, como citado anteriormente, prometeu voltar em janeiro de 2019.
“Quando eu era jovem, trabalhava em um hotel e via revistas falando sobre o Rock In Rio. Nunca pensei, em minha vida, que viajaria para o Brasil e seria conhecido no país. Mas, agora, fui ao Brasil várias vezes e tenho muitos fãs incríveis por aí e sempre penso em voltar”, afirmou. “Fui ao Brasil mais vezes e em mais cidades que qualquer outro artista internacional. E conheci mais pessoas, sem meet and greet, do que qualquer outro artista internacional”, completou.
Antes de vir à América do Sul, Blaze Bayley passará por diversos países da Europa. E já adiantou qual o show que deve chegar ao Brasil. “Tentamos selecionar algumas músicas da trilogia para o repertório. Há músicas das três partes. Além disso, estive no Iron Maiden há 20 anos, gravei dois álbuns e ainda gosto de tocar algumas músicas, mas estamos mudando a cada turnê. Teremos apenas algumas músicas do Maiden, como minha versão própria de ‘Virus’ e um novo arranjo de ‘The Angel And The Gambler’. É muito difícil trabalhar no repertório, pois há tantas músicas que gosto de tocar, mas preciso deixar muitas delas”, disse.
“Eu teria gostado de ficar no Iron Maiden”
Durante a entrevista, Blaze Bayley foi convidado a imaginar como teria sido se ele tivesse ficado por mais tempo no Iron Maiden. O vocalista chegou em 1994 para substituir Bruce Dickinson e ficou até o ano de 1999, quando o próprio Dickinson retornou a seu posto. Em sua curta passagem, Bayley gravou dois discos – “The X Factor” (1995) e “Virtual XI” (1998) – e enfrentou críticas, especialmente, devido ao seu estilo ser diferente da voz clássica do Maiden.
“Eu teria gostado de ficar no Iron Maiden, pois estava trabalhando em novas músicas que estariam em um terceiro disco. Estava muito empolgado em poder gravá-las. Mas estou muito feliz, pois tenho 10 discos feitos por mim após isso. Há fãs do Iron Maiden que me odeiam, mas há fãs que me amam. Para algumas pessoas no Brasil, ‘The X Factor’ é o melhor álbum do Maiden, enquanto que, para outros, é o pior. Apenas me sinto muito sortudo por poder ir ao Brasil, tocar minhas músicas e obter uma ótima reação”, afirmou Bayley.
Embora tenha sido dispensado do Iron Maiden, Blaze destacou a boa relação que mantém com os integrantes da banda. “Ocasionalmente nos falamos, mas estamos sempre em lugares diferentes. Vejo Bruce mais do que qualquer outro, mas eles sempre estão em turnê. Sempre que nos encontramos, é um momento legal”, disse.
E, apesar da rejeição a “The X Factor” e “Virtual XI” por parte do público, Blaze Bayley nota que os discos foram mais aceitos com o passar dos anos. “A nova reação ao ‘The X Factor’ e ‘Virtual XI’ está relacionada à nova masterização, em vinil. Melhorou bastante o som. Sempre é legal quando as pessoas me descobrem por acidente, ouvem os discos da minha época e não sabem de mim, só de Bruce ou, às vezes, Paul (Di’Anno). Acho que é muito divertido quando me descobrem por acidente. É como a ‘Matrix’: descobrem todo um novo universo, incluindo meus discos solo. Tenho os mesmos valores musicais que o Iron Maiden e os fãs também gostam da minha música. Tenho muito orgulho dos meus tempos no Iron Maiden”, afirmou.
E o Wolfsbane?
Antes de se tornar conhecido por ser o vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley se consagrou no underground com o Wolfsbane, banda que comandou de 1984 a 1994 ao lado de Jason Edwards (guitarra), Jeff Hateley (baixo) e Steve Danger (bateria). O grupo encerrou suas atividades após Bayley entrar para o Maiden, mas, nos últimos anos, passou por reuniões periódicas: em 2007, 2009 e 2012 – com direito a um disco, “Wolfsbane Save the World”, além de um retorno que está acontecendo neste momento, em 2018.
“Estamos em uma nova reunião, com a formação original completa, do primeiro disco. Estamos trabalhando em material inédito. Em dezembro do ano passado, fizemos seis shows pelo Reino Unido. Voltaremos a fazer mais oito shows por aqui. E teremos música nova”, disse Bayley.
Publicada anteriormente no Whiplash.