domingo, 6 de maio de 2018

BLAZE BAYLEY: O IRON MAIDEN PODERIA TÊ-LO AJUDADO DURANTE SUA PASSAGEM?

Por Bruno Rocha

É ponto pacífico entre todos aqueles que conhecem a história do Iron Maiden que a passagem de Blaze Bayley por lá foi no mínimo controversa. Certo, todo mundo já sabe, mas não custa nada lembrar: as performances ao vivo de Blaze com o Iron Maiden deixavam a desejar principalmente quando chegava a hora de ele cantar as músicas registradas originalmente por Bruce Dickinson. Blaze, notoriamente um cantor reconhecido por seus vocais graves e pesados, tinha bastante dificuldade de alcançar os tons altos que Bruce alcançava facilmente e que sempre foram uma das marcas registradas do Iron Maiden.

Eis o motivo pelo qual Blaze Bayley é até hoje escrachado por boa parte daqueles que conhecem o Iron Maiden. Blaze, barítono, não conseguia cantar tão alto quanto o tenor Bruce Dickinson. Até aí, tudo normal. São dois cantores de estilos distintos. Mas o problema reside no fato de Bruce ser endeusado por boa parte dos “fãs” da Donzela. De modo que, se um cantor tem dificuldade de reproduzir o que Bruce fazia, ele é logo taxado como péssimo ou limitado. 


Outro motivo de Blaze Bayley ser até hoje um cantor incompreendido é o seu timbre de voz em si. Não existe nenhum cantor de Metal no mundo que tenha uma voz parecida com a de Blaze, pesada, grave e raivosa. Mas esse é um mal que aflige todos aqueles que possuem um timbre de voz único, daqueles que você “ama ou odeia”. Quer mais exemplos: Derrick Green completa este ano duas décadas a frente do Sepultura aguentado críticas e mais críticas muito por conta de sua voz. James LaBrie, do Dream Theater, é outro cantor de Metal que possui uma voz única. Talvez essa seja o motivo de ele ser tão rejeitado por quem curte Dream Theater (muitos até defendem que a banda de John Petrucci deveria ser estritamente instrumental). Nem mesmo King Diamond consegue se esquivar deste fato e muitos até hoje não o compreendem por causa de seu timbre agudo e fantasmagórico.

Voltando a Blaze Bayley. Então por que diabos ele foi cantar no Iron Maiden mesmo sabendo que ele era “limitado”, tendo em vista ter que substituir ninguém menos que Bruce Dickinson?
Em primeiro lugar, Blaze não ingressou no Iron Maiden a força ou lançando mão de ameaças. Simplesmente surgiu a vaga de emprego e Blaze enviou seu currículo para a empresa. Quem é o cantor de Metal que não sonha em, pelo menos um dia, cantar no Maiden? Pois bem. O dono da empresa viu seu currículo (ouviu seu tape), se agradou e contratou o candidato, com o aval de seus sócios, Nicko, Dave e Janick. Quais as intenções que Harris tinha em mente em trazer Blaze para o Maiden, somente ele pode responder. Cabe lembrar que Steve tinha a opção de escolher um cantor que poderia facilmente alcançar tons altos e cantar as músicas gravadas por Bruce. Doogie White e André Matos estavam a disposição. Ele preferiu escolher o oposto.

X-Factour - 10 de novembro de 1995, Brixton Academy. 
Quanto aos álbuns gravados por Blaze, as discussões se acalmam um pouco, principalmente quando se trata de The X Factor. Este álbum traz uma carga soturna mais nunca antes vista em um álbum do Iron Maiden. Alguns se referem a The X Factor como o álbum mais Doom da Donzela. A voz estranha e grave de Blaze se encaixou bem na proposta densa e depressiva do álbum. Quando chegamos em Virtual XI, a análise é outra. Este é, de fato, um dos álbuns mais sem inspiração do Maiden, apesar de ter vários bons momentos, e a culpa disso não pode ser jogada somente em Blaze. Será que foi dele a ideia de repetir o refrão de The Angel And The Gambler quase 30 vezes?

Voltando a performance de Blaze ao vivo: o que a banda poderia ter feito para ajudar Blaze a ter um rendimento melhor:
Solução natural: baixar os tons das músicas. Não faria mal nenhum. Judas Priest, só para citar um exemplo, faz isso hoje e todo mundo sai ganhando: Rob Halford canta muito bem e confortavelmente e as músicas soam mais pesadas sem perder suas características originais. Os tons originais das músicas gravadas por Bruce se encontram no limite que Blaze poderia alcançar com seu esforço. Ter baixado meio tom ou um tom em cada música antiga poderia ter mudado para sempre várias impressões sobre Blaze ao vivo. E de bônus, as músicas soariam ainda mais pesadas, um problema que anda de mãos dadas com o Iron Maiden principalmente dos anos 2000 para cá.

Mas não! Blaze tinha que cantar nos tons originais! Por que, Steve? Será que a banda não tinha ideia que Blaze teria muita dificuldade em cantar na altura de Bruce? E que isso influenciaria na performance da banda como um todo? Será que os climas das músicas mudariam? Ou Steve não queria passar a impressão de que a banda estava envelhecendo, forçando Blaze a cantar nos tons originais?

O mais intrigante é que Blaze, que precisava desta ajuda por parte da banda, não a conseguiu e tinha que se esforçar, com o risco de prejudicar sua voz para o futuro, para alcançar os tons altos. Mas para Bruce, que nunca precisou de uma ajuda do tipo, a banda resolveu baixar o tom de Lord Of The Flies para que ele pudesse cantar confortavelmente.

A BANDA BAIXOU O TOM DE UMA MÚSICA DO BLAZE PARA BRUCE CANTAR?

Sim! Lord Of The Flies foi gravada originalmente em “F#m” (Fá sustenido menor), mas Bruce a cantava ao vivo em “Em” (Mi menor), um tom abaixo. Mas claro que o motivo não era que Bruce não conseguiria cantar no tom de Blaze. A música ficou bem mais baixa, mas Bruce cantava uma oitava acima. Traduzindo: bem mais alto, ao seu estilo. Ok, a música em questão ganhou um novo clima e ficou perfeita ao vivo na voz de Bruce, vide sua performance no Live/DVD Death On The Road. Mas isso foi um luxo concedido a Bruce Bruce, que não necessitava disso. O caso de Blaze era mais sério e necessário, e a ele não foi concedida a benesse de poder cantar em regiões mais confortáveis. Vai entender...
Ah, e se você reclama que Blaze errava as letras das músicas antigas ao vivo, Bruce também errava a letra de Lord Of The Flies.







Mas tudo bem. Aconteceu o que aconteceu e já faz quase duas décadas que Blaze foi demitido do Iron Maiden. Apesar dos pesares e de sua passagem contestada, Blaze sempre fala em suas entrevistas da gratidão que deve a Steve Harris pela oportunidade e por ele ser quem é hoje. Faz quase 20 anos que Blaze pode cantar do jeito que quer e da forma que se sente mais confortável. Tanto que seu trabalho-solo é bastante elogiado (por quem o ouve sem estar preso ao estereótipo de “o cara da voz estranha”). De qualquer forma, antes de criticar ou esculhambar um músico ou mesmo qualquer pessoa, cabe a reflexão de analisar as circunstâncias que cercam seu trabalho. Não gosta do Blaze assim mesmo? Ok! Mas isso não implica em condená-lo no Tribunal dos Fãs por conta de seu período no Iron Maiden. Eu o absolvo.

Bruno Rocha é redator e editor-chefe do site Roadie Metal.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Blaze Bayley: novo disco conceitual, Maiden e Brasil


Por Igor Miranda
Certa vez, o vocalista Doogie White definiu o colega Blaze Bayley como o “maior trabalhador do rock and roll”. Embora negue o rótulo – “acho que há muitas pessoas que trabalham duro”, diz –, Bayley é, de fato, um dos nomes mais ativos do heavy metal. Desde 2000, o ex-vocalista do Iron Maiden lançou nove álbuns solo, de inéditas, além de um disco com o Wolfsbane – “Wolfsbane Save the World”, de 2012 – e fez centenas de shows pelo mundo afora, sendo que mais de 50 deles foram no Brasil.

E o ano de 2018 já está sendo bastante agitado para Blaze Bayley. Em março, ele lançou “The Redemption of William Black (Infinite Entanglement Part III)”, disco que conclui a trilogia “Infinite Entanglement”, iniciada em 2016, com um álbum de mesmo nome, e complementada em 2017, com “Endure and Survive (Infinite Entanglement Part II)”. São três registros de inéditas em 715 dias – menos de dois anos –, que comprovam: Blaze está a mil.

Em entrevista exclusiva ao Whiplash.Net, Blaze Bayley falou bastante sobre seus novos discos, comentou um pouco sobre seu período no Iron Maiden e teceu vários elogios ao Brasil, com direito a uma promessa: voltará em janeiro de 2019 para uma série de shows pelo país.

A respeito de seus novos discos, Blaze Bayley reconhece que a série “Infinite Entanglement” foi um projeto ousado. Musicalmente, ainda traz o heavy metal de tons progressivos que os fãs se acostumaram a ouvir do vocalista, mas, até então, ele não havia trabalhado em séries de discos conceituais. Desta vez, ele conta uma história de ficção científica, com início, meio e fim repartidos em cada um dos três álbuns.

“‘Infinite Entanglement’ começa com um homem que não sabe se é humano. Sua consciência foi baixada para um corpo de máquina, então, ele acorda dentro dela. Ele se sente humano e pensa como um, mas tem corpo de máquina. Ele precisa decidir se é humano e é aí onde tudo começa. O segundo disco, ‘Endure and Survive’ é uma jornada de mil anos pelo espaço. Esse homem, William Black, sofre lavagem cerebral e deve matar todos os outros membros de sua raça até chegar ao novo mundo. Na parte três, ‘The Redemption of William Black’ ele tenta chegar ao novo mundo, mas os novos conquistadores da Terra, com suas naves, querem matar toda a população indígena. Então, William Black precisa decidir se fica com as tribos ou não. A história é semelhante à dos conquistadores de Portugal e Espanha, com a América do Sul sendo o novo mundo”, contou o vocalista.

As composições melódicas acompanham o tom de cada momento da história, de acordo com Bayley. “O primeiro disco começa com o ato de deixar sua casa e se despedir de tudo o que você conhece. Há otimismo, porque se busca um novo futuro, mas também há tristeza, por deixar tudo que é familiar para trás. A segunda parte é mais obscura e pesada, porque há morte, assassinato, sangue, ressentimento e vingança. São emoções mais obscuras. A parte três tem um tom melancólico, ao se lembrar do passado, de onde se veio. E descobrir que seu passado não dita o seu futuro, a música reflete esse ponto do otimismo”, revelou.

Blaze descreveu o projeto como “um grande desafio”, mas revelou que fez uso de aprendizados conquistados nos tempos de Iron Maiden. “Foi um grande desafio, mas, nos meus dias com o Iron Maiden, trabalhando com Steve Harris, aprendi muito. E são esses valores, onde a música está ligada à jornada. A melodia, a vocalização, a letra e a música estão ligadas à jornada. E trabalhar com Steve Harris, no Iron Maiden... ele me ensinou muito sobre isso. É uma grande influência. Há muitos detalhes, então, nós trabalhamos para lapidá-los e garantir que toda música seria o melhor que conseguíssemos fazer. Cada música tem seu propósito”, disse.

Banda e participações

Desde 2014, Blaze Bayley é acompanhado por uma banda já formada: a Absolva, composta pelo guitarrista Chris Appleton, o baixista Karl Schramm e o baterista Martin McNee. Apenas o também guitarrista Luke Appleton, que integra o Iced Earth, ficou de fora. Para Blaze, a decisão de trabalhar com esse grupo, que gravou os três discos da série “Infinite Entanglement”, tem sido “uma ótima forma para ter músicos consistentes e excelentes”.

“Chris Appleton é muito talentoso como guitarrista e como produtor. Martin McNee é um incrível baterista, porém, mais importante que isso, é que ele compreende tudo o que desejo e pergunta por todos os detalhes. Ele nunca se chateia e sempre trabalha duro. E Karl Schramm toca junto da banda e sabe como encontrar posições para encaixar o baixo. Sempre conversamos sobre todos os álbuns e antes de começar o primeiro, ensaiamos bastante. Desde então, dividimos onde cada música pertenceria. Trabalhar com uma banda de ótimos músicos nos três álbuns foi algo muito bom”, disse.

Especificamente em “The Redemption of William Black”, o mais recente da trilogia, Blaze Bayley contou com algumas participações especiais. Chris Jericho (Fozzy) e o já citado Luke Appleton cantaram em “Prayers of Light”, enquanto Liz Owen participou de “18 Days” e “Already Won”.


 “Fui muito sortudo com Chris Jericho. Estava em Los Angeles para um show e ele estava por lá. Nos conhecíamos de anos atrás, porque nos encontramos algumas vezes em festivais onde o Fozzy tocou. Ele me conhecia do álbum ‘The X Factor’ (1995), do Iron Maiden. Ele veio ao show, conversamos e ele me perguntou: ‘você falaria ao meu podcast?’. E eu respondi: ‘você estaria em meu disco?’. Ele disse que estaria em Birmingham, em outubro, e era justo onde gravaríamos o disco. Foi uma grande coincidência, pois aquele personagem de Chris Jericho é uma parte importante da história. Ajudou muito e foi fantástico. Já Luke Appleton, que é membro do Iced Earth e do Absolva, tem uma voz muito forte que eu gostei bastante de usar”, afirmou Blaze.

A relação com o Brasil

Não importa qual seja a turnê realizada por Blaze Bayley: os fãs podem ter certeza de que passará pelo Brasil. O vocalista citou o país diversas vezes durante a entrevista e, como citado anteriormente, prometeu voltar em janeiro de 2019.

“Quando eu era jovem, trabalhava em um hotel e via revistas falando sobre o Rock In Rio. Nunca pensei, em minha vida, que viajaria para o Brasil e seria conhecido no país. Mas, agora, fui ao Brasil várias vezes e tenho muitos fãs incríveis por aí e sempre penso em voltar”, afirmou. “Fui ao Brasil mais vezes e em mais cidades que qualquer outro artista internacional. E conheci mais pessoas, sem meet and greet, do que qualquer outro artista internacional”, completou.

Antes de vir à América do Sul, Blaze Bayley passará por diversos países da Europa. E já adiantou qual o show que deve chegar ao Brasil. “Tentamos selecionar algumas músicas da trilogia para o repertório. Há músicas das três partes. Além disso, estive no Iron Maiden há 20 anos, gravei dois álbuns e ainda gosto de tocar algumas músicas, mas estamos mudando a cada turnê. Teremos apenas algumas músicas do Maiden, como minha versão própria de ‘Virus’ e um novo arranjo de ‘The Angel And The Gambler’. É muito difícil trabalhar no repertório, pois há tantas músicas que gosto de tocar, mas preciso deixar muitas delas”, disse.

“Eu teria gostado de ficar no Iron Maiden”

Durante a entrevista, Blaze Bayley foi convidado a imaginar como teria sido se ele tivesse ficado por mais tempo no Iron Maiden. O vocalista chegou em 1994 para substituir Bruce Dickinson e ficou até o ano de 1999, quando o próprio Dickinson retornou a seu posto. Em sua curta passagem, Bayley gravou dois discos – “The X Factor” (1995) e “Virtual XI” (1998) – e enfrentou críticas, especialmente, devido ao seu estilo ser diferente da voz clássica do Maiden.

“Eu teria gostado de ficar no Iron Maiden, pois estava trabalhando em novas músicas que estariam em um terceiro disco. Estava muito empolgado em poder gravá-las. Mas estou muito feliz, pois tenho 10 discos feitos por mim após isso. Há fãs do Iron Maiden que me odeiam, mas há fãs que me amam. Para algumas pessoas no Brasil, ‘The X Factor’ é o melhor álbum do Maiden, enquanto que, para outros, é o pior. Apenas me sinto muito sortudo por poder ir ao Brasil, tocar minhas músicas e obter uma ótima reação”, afirmou Bayley.

Embora tenha sido dispensado do Iron Maiden, Blaze destacou a boa relação que mantém com os integrantes da banda. “Ocasionalmente nos falamos, mas estamos sempre em lugares diferentes. Vejo Bruce mais do que qualquer outro, mas eles sempre estão em turnê. Sempre que nos encontramos, é um momento legal”, disse.

E, apesar da rejeição a “The X Factor” e “Virtual XI” por parte do público, Blaze Bayley nota que os discos foram mais aceitos com o passar dos anos. “A nova reação ao ‘The X Factor’ e ‘Virtual XI’ está relacionada à nova masterização, em vinil. Melhorou bastante o som. Sempre é legal quando as pessoas me descobrem por acidente, ouvem os discos da minha época e não sabem de mim, só de Bruce ou, às vezes, Paul (Di’Anno). Acho que é muito divertido quando me descobrem por acidente. É como a ‘Matrix’: descobrem todo um novo universo, incluindo meus discos solo. Tenho os mesmos valores musicais que o Iron Maiden e os fãs também gostam da minha música. Tenho muito orgulho dos meus tempos no Iron Maiden”, afirmou.

E o Wolfsbane?

Antes de se tornar conhecido por ser o vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley se consagrou no underground com o Wolfsbane, banda que comandou de 1984 a 1994 ao lado de Jason Edwards (guitarra), Jeff Hateley (baixo) e Steve Danger (bateria). O grupo encerrou suas atividades após Bayley entrar para o Maiden, mas, nos últimos anos, passou por reuniões periódicas: em 2007, 2009 e 2012 – com direito a um disco, “Wolfsbane Save the World”, além de um retorno que está acontecendo neste momento, em 2018.

“Estamos em uma nova reunião, com a formação original completa, do primeiro disco. Estamos trabalhando em material inédito. Em dezembro do ano passado, fizemos seis shows pelo Reino Unido. Voltaremos a fazer mais oito shows por aqui. E teremos música nova”, disse Bayley.

Publicada anteriormente no Whiplash.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...