domingo, 1 de maio de 2016

Review: Blaze Bayley – Infinite Entanglement [2016]


por Ulisses Macedo
Quem acompanha a carreira do britânico Bayley Alexander Cooke, o ex-Iron Maiden mais conhecido pela alcunha Blaze Bayley, sabe que, em sua carreira solo, ele tende a escrever letras de cunho pessoal. Somente Silicon Messiah (2000) e Tenth Dimension (2002), os dois primeiros discos de sua empreitada, versam sobre ficção científica. Pois bem: em seu oitavo disco de estúdio, lançado quatro anos após The King of Metal, o careca resolveu voltar às origens futurísticas, compondo um disco conceitual que, segundo ele, é o primeiro de uma trilogia.
O álbum conta a história de William Black, um cara que, dentre 7000 selecionados, foi o escolhido para a “maior e mais longa missão espacial da história da humanidade”. No decorrer da jornada, William passa a se questionar se é mesmo um ser humano ou se é uma máquina; para isso, além das letras, o disco conta com breves inserções narrativas nas composições. A faixa-título abre o disco com empolgação, seguindo mais ou menos no estilo de registros como The Man Who Would Not Die (2008) e Promise and Terror (2010), com peso cadenciado, só que com guitarra à moda do metal tradicional. O refrão traz umgroove que funciona muito bem. “A Thousand Years”, apresentada por uma breve introdução de bateria, mantém o pique e tem uma pegada maideniana, bastante animada. “Human” é a faixa de trabalho de Infinite Entanglement; a letra engloba a temática do disco de forma eficiente e traz bons solos de guitarra, além de uma bateria feroz e presença mais notável do baixo.
A próxima faixa merece ser introduzida por um parágrafo à parte, tamanha é a surpresa que sua chegada causa no ouvinte. Acústica, “What Will Come” traz Thomas Zwijsen (violão – lembram dele?) e Anne Bakker (violino) como convidados. Carregada de emoção, ela começa de forma mais contida e acelera um pouco na segunda metade, mantendo uma aura meio flamenca. É a composição mais interessante do CD e uma das melhores da carreira de Blaze. “Stars Are Burning” e “Solar Wind” trazem o peso de volta à linha de frente; gosto principalmente do refrão desta última. “The Dreams of William Black” não passa de um interlúdio atmosférico, contando com o teclado da convidada Emily Pembridge, mas sua premissa é interessante: William está sonhando e começa a ouvir vozes que perguntam onde ele está (‘Where are you?‘). Essas vozes são gravações enviadas por alguns fãs que ganharam esta oportunidade, tanto em inglês como em outras línguas – dá pra ouvir um ‘onde estás?‘ aos 18 segundos!
Blaze Bayley
BLAZE BAYLEY
“Calling You Home” é uma boa faixa, mas sem surpresas além de um solo de guitarra um pouco mais elaborado, enquanto que “Dark Energy 256” tem aquele riff acelerado que lembra as clássicas “Man on the Edge” e “Futureal”, dos tempos de Iron Maiden. “Independence” engana ao começar lenta, com violão, mas logo deslancha em alguns dos momentos mais legais do álbum. A finaleira “A Work of Anger” é mais lenta, com uma pegada de hino que deve botar a galera para cantar a plenos pulmões nos shows. Os dedilhados remetem a “The Clansman”, mas ainda assim a faixa não chega ao nível dessa obra-prima de Virtual XI (1998). O curto epílogo “Shall We Begin” encerra o disco no tom certo para a segunda parte da trilogia.
A banda deste disco é composta dos músicos do grupo britânico Absolva, que Blaze utiliza em suas turnês européias: Chris Appleton (guitarra), Martin McNee (bateria, percussão) e Karl Schramm (baixo), sendo que Chris e Martin são conhecidos dos fãs que assistiram ao DVD Soundtracks of My Life – Live in Prague 2014. Isso mesmo: nada de guitarras gêmeas – uma decisão que me deixou cabreiro, afinal a presença de dois guitarristas era, até então, fundamental em seus discos. Apesar de conseguir mascarar bem a falta de outra guitarra no estúdio, ao vivo isso fica bem marcado, como se vê no próprio Live in Prague, por exemplo. A produção é um pouco melhor que a do antecessor The King of Metal(2012), mas teria sido muito melhor se Blaze trabalhasse com Andy Sneap, o produtor dos dois primeiros discos Sci-Fi de sua carreira. De qualquer forma, apesar de Infinite Entanglement ficar devendo para os discos mais representativos de Blaze, além de derrapar em vários quesitos, como na mixagem e na qualidade das composições, ele mostra um Blaze com ideias mais ambiciosas. Faltou só caprichar mais, o que talvez teria acontecido se Blaze ainda pudesse contar com as ajudas de uma gravadora, como na época do Silicon Messiah e Tenth Dimension. Espero que ele possa trabalhar melhor no restante da trilogia, pois criatividade ele ainda tem.

Publicado anteriormente no site Consultoria do Rock.
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