- OLÁ, THOMAS! COMO VAI VOCÊ? SEJA BEM-VINDO AO ROCK MANIA!
- Olá, tudo bom, e você? Muito obrigado, eu estou muito bem
e animado para esta entrevista.
- VOCÊ RECENTEMENTE ESTEVE EM TURNÊ COM BLAZE BAYLEY, QUE
TAMBÉM PASSOU PELO BRASIL. COMO FOI ESSA TURNÊ?
- Foi realmente muito legal, foi a terceira vez que eu
realizei uma turnê no Brasil. A receptividade do público é sempre muito boa no
Brasil. É realmente o melhor país no mundo para se apresentar ao vivo. Eu fiz
um vídeo legal da turnê, e está no youtube, quem quiser ter uma ideia de como
foi a turnê pode assisti-lo, eu dei o nome de “Ride 666”, em alusão ao “Flight
666” do Iron Maiden. Mas nós infelizmente viajamos de van e não em um boeing.
Então, eu fiz um pequeno documentário dessa turnê, que foi muito legal, e
serviu para eu apresentar meu novo cd ao público brasileiro.
Entrevista com Thomas Zwijsen
- VOCÊ TRABALHOU COM BLAZE BAYLEY NO DISCO "THE KING OF
METAL". COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA?
- Bom, foi uma experiência muito legal, é claro! Eu conheci
Blaze alguns meses antes de gravar o “The King Of Metal”, quando eu estava
gravando meu primeiro álbum “Nylon Maiden”, e eu pedi para Blaze ser o
convidado no álbum para gravar The Clansman. Então eu o convidei para vir ao
meu estúdio na Holanda, que é onde eu moro. A esposa dele é belga, então fica
bem perto de minha casa. Então quando ele estava visitando sua família veio até
meu estúdio, e nós nos demos muito bem, gravamos Clansman e ele gostou muito.
Alguns dias depois eu estava comemorando a noite de ano novo, então é claro, eu
estava bebendo e festando, então Blaze me ligou e disse: “Eu realmente gostei
de estar no estúdio com você. Você pode vir à Inglaterra, para trabalhar no
´King Of Metal`?” Então, é claro que eu fiquei muito feliz e viajei para a
Inglaterra e nós compusemos o álbum em sua casa em Birmingham. Então nós
viajamos para a Itália e gravamos a maioria das músicas, e depois nós viajamos
para a Holanda e gravamos mais algumas músicas...
E o mais legal de tudo foi que ao final da gravação do
álbum, nós não tínhamos mais dinheiro para finalizá-lo. Então nós ligamos para
Steve Harris, e ele disse: “É claro que vocês podem usar meu estúdio”. Então
nós fomos até a casa de Steve Harris na Inglaterra, e usamos seu estúdio para
terminar a mixagem do álbum, com Tony Newton, que também trabalha como
engenheiro de som do Iron Maiden. Então nós finalizamos o álbum na casa de
Steve Harris, o que para mim era como um lugar de peregrinação, e foi muito
legal ter feito isso lá.
- QUANDO VOCÊ COMEÇOU A TOCAR AS MÚSICAS DO IRON MAIDEN NO
VIOLÃO?
- Quando eu estava na faculdade eu estudei violão clássico.
Mas eu estava um pouco entediado com o repertório das aulas, porque elas têm
muitas músicas antigas, que servem para melhorar a técnica, mas não são muito
legais para se ouvir, na minha opinião. Eu era um grande fã de Iron Maiden, que
se tornou minha banda preferida desde o momento em que a conheci. Então um dia,
quando eu estava em uma loja testando um violão com cordas de nylon. Eu toquei
a intro de Wasted Years, então eu pensei que poderia fazer uns arranjos nas
bases e tocar músicas inteiras com apenas um violão. E deu certo, eu botei um
vídeo no youtube, e ele teve muitos views, e eu nunca tinha publicado nada no
youtube antes, e foi muito legal o feedback que eu tive dos fãs do Iron Maiden.
E é uma coisa nova, ninguém fez isso antes. E isso acabou trazendo os jovens
para os concertos, que geralmente atraem somente as pessoas mais velhas. E hoje
em dia estou com mais de seis milhões de views no youtube, então eu creio que
foi uma boa escolha.
- VOCÊ JÁ TRABALHOU COM ALGUM OUTRO MEMMBRO OU EX-MEMBRO DO
IRON MAIDEN?
- Eu iria recentemente para São Paulo tocar com Bruce
Dickinson no LAMEC (Latin America Meeting & Events Conference), eu havia
sido convidado para abrir o show de Bruce, no mesmo palco, então eu estava
muito empolgado por voltar ao Brasil para fazer isso... Mas, dois dias antes do
evento, os organizadores me ligaram e falaram que Bruce infelizmente estava no
Hospital, e sua apresentação havia sido cancelada. E agora nós sabemos que é
por que Bruce está lutando contra um câncer, e as notícias são boas, de que ele
está se recuperando muito bem, e eu tenho certeza de que ele ficará ótimo. Mas
é claro, eu fiquei muito triste, pois poderia me encontrar com meu herói, e
tocar para ele. Mas então, eu nunca toquei com outros membros do Iron Maiden,
apenas com membros do Europe, Dream Theater, Ayreon e outras bandas mais.
- QUANTOS DISCOS VOCÊ JÁ GRAVOU? NOS FALE SOBRE ELES...
- Ok, deixe-me pensar... Eu vou falar cronologicamente para
ficar mais fácil. O primeiro foi Nylon Maiden, um disco somente com músicas do
Iron Maiden, em que eu fiz os arranjos para o violão clássico. Eu tive alguns
músicos convidados nesse álbum, como Blaze Bayley e Tony Newton, baixista do
Voodoo Six. Então, esse disco tem grandes hits do Iron Maiden, músicas como The
Trooper, Aces High e Wasted Years. Depois eu lancei um livro de tablaturas, com
um EP bônus, chamado Fear Of The Opera, em que mesclei os nomes das músicas
Fear Of The Dark e Phantom Of The Opera para o título. São apenas 4 músicas.
Depois lancei um vinil com duas músicas: The Evil That Men
Do e Run To The Hills. Isso tudo porque eu queria ter um vinil, pois acho muito
legal. E depois disso eu lancei Nylonized, que não tem apenas músicas do Iron
Maiden, mas também músicas do Dream Theater, Rainbow, Deep Purple e Alice
Cooper, bandas que eu realmente gosto. Então eu convidei vários músicos, como
Derek Sherinian, que já tocou teclado para o Dream Theater, Billy Idol, Alice
Cooper e Kiss. Ele é um dos meus ídolos na música, seu trabalho solo é muito
legal, é um músico bastante progressivo. Ele tocou piano no meu disco. Chamei
também Kee Marcello, da lendária banda Europe, que muita gente conhece apenas a
música The Final Countdown. Ele gravou a guitarra solo no final do álbum. E tem
o vocalista Damian Wilson, da banda de metal progressivo Threshold. Ele também
cantou no projeto de metal opera Ayreon, juntamente com Bruce Dickinson. Ayreon
é um projeto de metal opera de Arjen Lucassen. Também canta no álbum David
Readman, vocalista do Pink Cream 69, uma banda alemã de hard rock. Também
contou com Ben Woods, um violonista flamenco de Los Angeles, que eu irei sair
em turnê novamente este ano.
Então este é um disco com diferentes estilos musicais, de
diferentes bandas e também com minhas próprias músicas. A música mais legal é
Perfect Storm, uma flamenco metal opera de nove minutos, com todos os
convidados nessa canção. E depois disso tudo eu lancei, recentemente, Nylon
Maiden II, novamente com músicas do Iron Maiden e algumas músicas próprias. As
músicas do Iron Maiden que escolhi não são grandes hits, mas são as que eu mais
gosto, como Journeyman, Alexander The Great, These Colours Don’t Run, Different
World, Revelations, que são minhas favoritas. E entre todos esses trabalhos eu
também gravei The King Of Metal com Blaze, e mais o EP acústico Russian
Holiday, que tem uma música inédita, a própria Russian Holiday.
E tem a Sign Of The Cross, a Stealing Time e outras músicas
já gravadas por Blaze. Nós fizemos arranjos com violino, com a holandesa Anne
Bakker, que também fez uma turnê com a gente pelo Brasil, e os brasileiros
gostaram muito dela.
- QUANDO VOCÊ COMEÇOU A TOCAR? ESTUDOU BASTANTE?
- Meu pais me botaram numa escola de música quando eu tinha
9 ou 10 anos de idade. E eu realmente não gostava muito daquilo. Mas quando eu
comecei o colegial eu tocava Iron Maiden no violão, e eu tinha um professor
legal, que me mostrou algumas músicas flamencas, latinas e também brasileiras,
como Tom Jobim, Benito Di Paula e Villa Lobos. Então eu realmente comecei a
gostar de violão clássico, e passei a tocar bastante. Também comecei a tocar
guitarra em uma banda de heavy metal. Então eu comecei a estudar bastante
quando eu tinha uns 16 anos de idade. Antes eu tocava, mas não gostava muito. E
meu pai fazia, ele mesmo, violões clássicos, então eu podia escolher entre
vários violões em minha casa, e sempre tive violões bons para tocar, e isso é
importante na minha opinião.
- VOCÊ NASCEU NA BÉLGICA E VIVE NA HOLANDA. POR QUE ESSA
MUDANÇA DE PAÍS?
- Não é bem uma mudança de país, pois é como se fosse um
país apenas, Bélgica e Holanda. E eu vivo bem perto da fronteira. Todos os dias
eu atravesso a fronteira. Quando eu vou tomar uns drinques, atravesso a
fronteira, quando volto para casa, atravesso novamente. Eu nasci na Bélgica e
vivo na Holanda, mas eu sinto como se fosse apenas um país.
- QUAIS SÃO SUAS MAIORES INSPIRAÇÕES MUSICAIS?
- Eu tenho várias, mas nesse momento, a maior de todas é
Vicente Amigo, um violonista espanhol, que toca música flamenco, mas não a
tradicional. Ele toca a música flamenco misturada com jazz, com música latina e
irlandesa. Ele utiliza em suas músicas instrumentos como violino e flauta. Ele
tem um disco muito legal chamado Tierra, seu mais recente álbum. É tão bom que
eu escuto todos os dias, e nunca me canso. Além disso, eu gosto de algumas
bandas de heavy metal, como, é claro, Iron Maiden. E também gosto muito do
trabalho solo de Bruce Dickinson, de Dream Theater, Helloween, Edguy,
Avantasia... E Deep Purple, é claro, que é uma de minhas bandas preferidas.
Steve Morse é um dos melhores guitarristas que eu já vi tocar.
- COMO VOCÊ VÊ A CENA DO ROCK ATUALMENTE, AO REDOR DO MUNDO?
- Ao redor do mundo eu vejo muitas diferenças, como entre a
Europa e o Brasil. No Brasil o Iron Maiden continua sendo mainstream. Você pode
ouvir Iron Maiden no rádio. Ou quando você sai na noite e vai a um clube, como
o Manifesto, em São Paulo. No Rio de Janeiro você pode ir ao Teatro Odisseia,
em Pomerode tem um clube muito legal, o Wox. São lugares que tocam rock e heavy
metal. Na Europa os clubes tocam músicas de merda como Kanye West e Rihanna,
essas porcarias. O legal na Europa é que temos clubes no underground, eles não
são muito famosos, e são locais menores, mas os fãs acham muito legal. Os
lugares que mais gosto de tocar na Europa são Alemanha, República Tcheca e
Bulgária. E é claro, como eu toco violão clássico, posso tocar em lugares como
teatros ou bares de jazz, ou seja, tenho mais opções do que apenas os clubes de
rock.
- NOS FALE SOBRE MOMENTOS INESQUECÍVEIS EM SUA CARREIRA...
- Tem alguns shows, especialmente no Brasil, que são
inesquecíveis para mim. Minha primeira turnê aí foi muito legal, eu nunca tinha
visto fãs tão loucos antes. Em Vitória, onde foi um dos meus primeiros shows no
Brasil, os fãs vinham ao hotel me trazer presentes, pedindo autógrafos. Em
Santo Ângelo toquei um show acústico para mais de mil pessoas, o que na Europa
provavelmente não seria possível. E tive muitos outros shows inesquecíveis,
como o de lançamento de meu álbum em Dubai, nos Emirados Árabes, que é um lugar
bastante surreal. E é claro, é inesquecível para mim ter tocado com todos esses
músicos fantásticos que sempre fui fã, como Derek Sherinian, Blaze Bayley, Kee
Marcello... Isso com certeza é inesquecível! Também foi inesquecível ser
convidado pela Ortega Guitars, uma marca alemã, para ir a sua fábrica testar
seus violões e guitarras e escolher o que eu mais gostasse. E eles me pegaram
como endorser, então posso utilizar seus violões, e levá-los comigo ao redor do
mundo, e conhecer pessoas fantásticas. Tudo isso é inesquecível!
- O QUE VOCÊ MAIS GOSTA NO BRASIL? SUA NAMORADA VIVE AQUI...
- Sim, sim... Eu acho que todos sabem que as garotas
brasileiras são muito bonitas. E essa também é uma diferença entre a Europa e o
Brasil. No Brasil, muitas garotas bonitas vão aos shows de metal. Na Europa,
não vão muitas, e as que vão, não fazem o meu tipo, com todo respeito. Mas
então, além disso, a comida no Brasil é maravilhosa, eu gosto muito de frutas.
Eu gosto de tudo no Brasil, mas, exceto, eu odeio as estradas, elas são
terríveis, muito perigosas.
- E VOCÊ VÊ SUA NAMORADA COM QUE FREQÜÊNCIA?
- Eu estive no Brasil em novembro, dezembro e janeiro. Agora
eu estou na Europa, e eu acho que ela virá pra cá muito em breve. E eu vou
voltar ao Brasil no final de maio. E vou fazer algumas apresentações aí
novamente, e também algumas clínicas de violão.
- O QUE VOCÊ NÃO GOSTA NO MEIO MUSICAL?
- Eu não gosto do fato de muitas pessoas acharem que a
música e tudo tem ser de graça. Eu não me importo que elas pensem assim, mas
elas não podem reclamar quando um artista para de lançar discos. Porque fazer
um álbum é muito caro, você tem de pagar o estúdio, o engenheiro de som, a
prensagem do disco, você tem de pagar licenças, você tem de pagar as
plataformas digitais, como o iTunes, etc. Então algumas pessoas pensam que eu
sou um mercenário quando eu cobro pela minha música, ou quando eu lanço livros
de tablatura de minhas músicas. Algumas pessoas adoram, e compram os livros, e
me enviam e-mails muito bacanas me agradecendo, e ficam realmente muito
felizes.
Mas algumas pessoas comentam em meus vídeos no youtube: “Ei,
você é um mercenário tentando ganhar dinheiro com essa música”. Bem, em minha
opinião, você não vai a um supermercado e pede por comida de graça. Quando as
pessoas realizam um trabalho, você geralmente paga por esse trabalho. Então, eu
penso que com a música é a mesma coisa, pois você tem de trabalhar duro. Eu
trabalho dia e noite nisso, praticando, gravando, marcando meus shows,
dirigindo até os concertos, preparando vídeos para meu canal no youtube. É um
trabalho muito difícil, e algumas pessoas pensam que isso tem de ser de graça.
Eu acho que elas estão erradas, e por causa dessas pessoas alguns artistas
deixam de gravar álbuns, porque eles não têm dinheiro para fazer isso. Até
mesmo Blaze Bayley trabalhou em uma fábrica alguns anos atrás, porque ele não
tinha mais dinheiro, pois as pessoas não pagam mais por música. É uma vergonha!
- QUAIS SEUS PRÓXIMOS PASSOS?
- Atualmente eu estou trabalhando em minha escola de violão
online, que começou a cerca de um mês atrás. É a “King Of The Strings”, no site
kingofthestrings.com. E eu estou fazendo um livro que ensina como tocar no meu
estilo, tocar Rock em um violão. Então eu ensino as pessoas a tocar violão sem
precisarem praticar aqueles tediosos exercícios de quinhentos anos atrás. E eu
também estou trabalhando em um álbum de canções próprias, apenas músicas de
minha autoria. E eu estou trabalhando na Master Guitar Tour, uma turnê que
começou ano passado, juntamente com Ben Woods, um violonista flamenco de Los
Angeles. Ele tem o projeto “Flametal”, que mistura música flamenca e Metal,
onde ele toca músicas do Ozzy, do Megadeth, do Yngwie Malmsteen, no violão
flamenco. E eu é claro, toco Iron Maiden, Dream Theater e Alice Cooper também
no violão flamenco. E nós dois tocando juntos é um show acústico de Metal muito
louco. Bem, são nessas coisas que eu estou trabalhando atualmente.
- THOMAS ZWIJSEN, MUITO OBRIGADO PELA ENTREVISTA E O ROCK
MANIA FICA SEMPRE A SUA DISPOSIÇÃO!
- Ok, muito obrigado por esta entrevista, pelo tempo dado a
mim e por todos os ouvintes do Rock Mania. Espero ver vocês novamente em breve
no Brasil, muito em breve.
Fotos: Maele Finger