BLAZE
BAYLEY
Teatro
Odisseia - Rio de Janeiro/RJ
5 de
fevereiro de 2015
Texto
e fotos: Daniel Dutra
"O
prefeito do Rio de Janeiro disse que um ciclone estava vindo para a cidade, por
isso era perigoso ir para o show do Blaze Bayley. Deixou todo mundo com medo.
Foda-se ele. Meus fãs são malucos." Não chega a esse ponto, mas é fato
que, diante do alarde feito por Eduardo Paes, mas sem direito a ciclone,
aqueles que arriscaram sair de casa são corajosos. Em uma cidade que não tem
nada de maravilhosa quando chove forte, em um bairro – a Lapa – que sofre com
alagamentos quando o céu desabafa –, a expectativa de uma tempestade era motivo
suficiente para (quase) ninguém sair de casa. Foi até mesmo razão de muitas
empresas liberarem seus funcionários no meio da tarde. Resultado: depois de uma
chuva passageira, trânsito tranquilo à noite e não mais do que 50 pessoas no
Teatro Odisseia para ver o ex-vocalista do Iron Maiden.
Nada que o desmotivasse, uma vez que parecia estar à frente de 500 pessoas (a lotação da casa) – antes, para um público relativamente menor, o violonista Thomas Zwijsen apresentou o seu Nylon Maiden, ou quase. O belga, que gravou com o vocalista o álbum “The King Of Metal” (2012), mandou até mesmo “Highway Star”, do Deep Purple, em meio a versões de “The Trooper”, “The Evil That Men Do” e outros clássicos da Donzela. O garoto esbanja talento, e o trabalho é interessante, mas na medida certa até uns 30, 40 minutos. Depois, difícil negar que ficaria cansativo. Voltando à atração principal da noite, Bayley fez jus a algumas observações antigas deste que vos escreve. Parte delas óbvias, diga-se.
A
começar pela diferença que é ouvi-lo cantar as próprias músicas, não as do Iron
Maiden que não foram feitas para ele – minha primeira experiência, no Monsters
Of Rock de 1996, não foi das mais agradáveis. “Voices From The Past”, “Brave” e
“The Launch”, que foram o ponto de partida do show, ratificam que o Heavy Metal
mais direto, menos intrincado e épico recebe melhor a voz de Bayley.
“Wrathchild” foi a primeira amostra do catálogo de seu ex-grupo – e uma
surpresa, na verdade, pois entrou no lugar de “Speed Of Light” – e abriu
caminho para um set que priorizou o Blaze, especialmente o álbum “Silicon
Messiah” (2000), e a Donzela.
Acompanhado
dos brasileiros do Tailgunners – os competentes Lely Biscassee Raphael Gazal
(guitarras), Lennon Biscasse (baixo) e Gustavo Franceschet (bateria) –, o
vocalista mostrou que a vida musical fora do Maiden merece uma conferida.
“Stare At The Sun”, “Ghost In The Machine”, “Kill & Destroy” e “Soundtrack
Of My Life”, por exemplo, não vão mudar o mundo, nem mesmo o rumo do som
pesado, mas valem a audição. E se o público era pequeno, era também de
admiradores.Diante de todas as circunstâncias, quem estava lá não foi movido
pelo curiosidade de ver um ex-Iron Maiden. Todas as letras estavam na ponta da
língua, mas é claro que não dá para espantar o fantasma da Donzela.
“When
Two Worlds Collide”, “Futureal” e “The Clansman” foram recebidas com grande
entusiasmo. Além disso, reforçaram a minha opinião de que “Virtual XI” é muito
melhor que “The X Factor” – não que os dois discos sejam grande coisa, porque
não são.Mas o último trabalho com Bayley seria mais palatável se as guitarras
não soassem como aquelas tonantes da Giannini. Mesmo “Como Estais Amigos”, que
substituiu “Sign Of The Cross” no set, e “Virus” tiveram brilho próprio.
Abraçado
à sombra do Iron Maiden, Bayley voltou para o bis com “Fear Of The Dark” e “Man
On The Edge”, que causaram uma catarse desproporcional ao tamanho do público,
mas... Olha, “Fear Of The Dark” é mesmo funcional. Não à toa um garoto à minha
frente passou toda a música tocando uma guitarra imaginária como se estivesse
tendo uma convulsão, acompanhado por uma menina que dançava sensualmente (nem
tanto, nem tanto...) sem sincronia alguma com o som que saía dos alto-falantes.
“Fear Of The Dark” causa mesmo uma comoção, mas não dá mais. Nem “Stairway To
Heaven” e “Smoke On The Water” saturam tanto – bom, até porque estas não
parecem canções feitas por um grupo de adolescentes que acabou de ganhar seus
instrumentos e compôs a sua primeira música. Com o perdão da sinceridade.
Ao
fim da apresentação, Bayley atendeu pacientemente a todos com fotos e
autógrafos – o que não foi um problema diante de poucagente – antes de trocar
algumas palavras com a ROADIE CREW. E resumiu a noite com um misto de
agradecimento e frustração. “Eu tenho de valorizar meus fãs, estes que vieram
depois de o prefeito ter pedido para as pessoas não saírem de casa. Por isso
digo que meus fãs são os melhores, porque é muito bom saber que há alguém
curtindo a minha música, seja na situação que for. Mas eu não toco mais no Rio
de Janeiro nesta época do ano, no verão carioca, porque não dá para correr esse
risco de novo”, disse o vocalista, referindo-se ao show em janeiro de 2013, num
dia em que a chuva também afastou o público. “Eu não quero lotar arenas, não
lamento não estar tocando em lugares maiores. O que eu quero é lotar este
lugar.” Apagada as luzes, Bayley, com mochila nas costas e mala na mão, seguiu
tranquilamente pela Mem de Sá, tradicional rua da Lapa, até entrar num bar para
comer algo e beber algumas. Gente
como a gente.
Setlist
1. Voices From The Past
2. The Brave
3. The Launch
4. Wrathchild
5. Stare At The Sun
6. When Two Worlds Collide
7. Futureal
8. Silicon Messiah
9. Ghost In The Machine
10. Kill & Destroy
11.
Como Estais Amigos(era Sign Of The Cross)
12. Virus
13. The Clansman
14. Soundtrack Of My Life
15. 10 Seconds
Bis
16. Fear Of The Dark
17.
Man On The Edge
Fonte: Roadie Crew